quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Os adultos e suas representações de espaço

Ao explorar objetos e ambientes variados, a criança vai montando uma representação do espaço e aprende a se orientar por pontos de referência. Assim que aprende a engatinhar, a criança não só pode pensar numa bolinha, por exemplo, mas se propõe a encontrá-la. Assim vem uma sequência: achar o brinquedo no ambiente em que ele está, entender onde ela própria se encontra e elaborar uma trajetória de deslocamento para chegar ao objetivo. Para isso, são necessárias referências para a orientação. Surge aí a exigência de estabelecer relações posicionais entre os objetos - se a bolinha rolou para trás do sofá, como se deslocar para alcançá-la? De início, os pequenos brincam com o próprio corpo, depois, passam a manipular tudo o que veem, dos 4 aos 6, ela expande a experimentação. O mesmo princípio ocorre com a representação que os pequenos têm do próprio corpo. Nesse processo, eles desenvolvem ainda a percepção de que ele tem dois lados - o esquerdo e o direito. Esse conceito, da lateralidade, se desenvolve em geral por volta dos 7 anos (a idade pode variar) e permite que a criança diga se um objeto se localiza mais próximo à sua esquerda ou direita - embora nomear os dois campos seja difícil num primeiro momento (como no diálogo abaixo).
Repórter: "Como você faz para ir do seu quarto para a cozinha, Laura?"
Laura: "É assim: eu tô no meu quarto, ando um passo reto e faço uma curva."
Repórter: "Mas para que lado é a curva?"
Laura: "Pra lá, assim (e indica a esquerda com a mão)."
Repórter: "Assim como?"
Laura: "Assim, para o lado dessa mão. Aí depois a gente vira assim (voltando o corpo para a direita) e entra na cozinha."
É, não sei se é para concordar ou discordar com a reportagem acima. Só sei que no ambiente e com os adultos que convivo, o conceito da lateralidade comparado a faixa etária passou dispercebido. Mais a gente vai descobrindo, levando e se ajudando. Porque quando te perguntarem em que rua entrar, não diga aquela alí (apontando a mão para a direita ou esquerda)! Vai que a pessoa que te perguntou não entende esse seu problema e mesmo assim passa direto? Ai que confusão! Quem tem problema, você ou ele(a)?
Edição 226 Nova Escola Outubro 2009 Título original: Peça a peça, o mundo se constrói

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